Por Ana Cláudia Esquiávo
Ana Cláudia Esquiávo é escritora e jornalista.
Olá, leitores!
Esta semana trago para vocês a
escritora de livros policiais e suspense Cristiane Krumenauer, que em agosto deste
ano, publica a obra O preço de uma vida, na Bienal de São Paulo, pela Editora
Novo Século.
Autora das obras Atrás do
crime e Chamas da noite, Cristiane já representou a literatura brasileira em
países como Colômbia e Namíbia, local que lhe serviu de inspiração para escrever
a série Contos de Namíbia.
Seu livro mais recente - A Máscara de Flandres - foi
escrito enquanto a escritora vivia na África, por isso, questões como machismo
e preconceito racial foram abordadas com tanta evidência nesta obra.
Mestre em Linguagem pela UniRitter
Laureate International Universities, a
autora, que é esposa de oficial do exército, precisa mudar de casa com a sua
família a cada dois anos.
“Pode
ser para qualquer lugar do Brasil, mas também do exterior. Pode ser que viverei
numa casa confortável ou onde o teto deve ser reformado com urgência para que
não desabe. Por isso, meu escritório é um laptop e uma mochila. Por
praticidade e também para sobreviver a situações de risco” - afirma.
Literaleitura:
Quando e por que você decidiu se tornar
escritora?
Cristiane Krumenauer: Sempre escrevi por hobby, mas tinha como profissão a
docência. Quando me casei e meu marido passou a ser transferido a cada ano,
pensei: vou tornar a escrita minha carreira. Deu certo. Hoje, quando tenho que
me mudar de estado ou de país, coloco o notebook na mochila e continuo
escrevendo, em qualquer lugar e sob quaisquer condições.
L: Quais dificuldades você enfrentou para
entrar no mercado editorial?
Cristiane: O
mercado editorial não é o principal problema. Há editoras (pequenas ou médias)
que acolhem o autor iniciante. O difícil é alcançar os leitores. Não os julgo –
difícil apostar num autor nacional, com baixa tiragem, o que torna o livro
muito caro; sendo que um best-seller tem preço bem-acessível, além de uma
distribuição extraordinária. Quando o leitor aposta na gente, é motivo de muito
comemorar.
L: Quais escritores mais a influenciaram?
Cristiane: Como
sou formada em Letras, apesar de escrever ficção policial e suspense, leio
muitos clássicos, como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Lygia Fagundes Telles.
De uns tempos para cá, estou mergulhando na ficção de Karin Slaughter, Georges
Simenon, Raymond Clandler, Dashiell Hammett, Patricia Highsmith, Paula Hawkins
e Lisa Gardner. Sou uma leitora eclética. Leio todos os tipos de livros,
inclusive os técnicos, especialmente quando estou escrevendo um original.
L: Quais são os desafios de se destacar em um mercado onde há tanta
valorização da literatura estrangeira?
Cristiane: Conquistar
um espacinho numa livraria badalada já é sensacional (digo, sem precisar pagar
por isso, obviamente). Os espaços são disputadíssimos. Quando oportunidades
surgem, você precisa pagar caro por ela (ou você é um best-seller ou você é um
autor que pagou para ter seus livros nas prateleiras especiais da loja). Os
incentivos são raros; a vontade de escrever, imensa. Está aí um contraponto que
pode auxiliar: persistir e persistir. Sempre. Reclamar nunca ajudou no processo
da minha escrita.
L:
Como é o seu processo de escrita? Você faz roteiros das histórias, dossiês de
personagens?
Cristiane: Cada livro
seguiu um processo diferente. Quando escrevi A MÁSCARA DE FLANDRES, por
exemplo, eu estava na África, com uma internet precária, sem bibliotecas nem
livrarias aonde eu pudesse fazer uma pesquisa sobre o tema da escravidão no
Brasil. Então, assim que descobri que um Coronel iria para Namíbia resolver
umas questões com o governo federal, aproveitei a oportunidade para passar uma
listinha de livros para ele. Foi a minha salvação! Porque, antes de começar a
escrever, realizo as pesquisas históricas, geográficas, culturais etc. Depois,
visualizo o esqueleto enquanto caminho com meu filho. A fim de criar
personagens vívidas, também faço um “álbum” com fotos de artistas ou de pessoas
comuns e atribuo um papel a elas. Isso é importante numa narrativa longa, com
muitos personagens. Fazendo isso, garanto que Fulana nunca deixará de ser ruiva
para ser loira, ou seja, evito enganos que podem arruinar qualquer romance.
L: Você costuma criar trilha sonora para os seus livros? Quais personagens você utilizou a música como
inspiração?
Cristiane: A
trilha sonora é adequada em book trailers. Não fosse os direitos autorais,
teria solicitado Runaway Train, do Soul Asylum, para o book trailer de A
MÁSCARA DE FLANDRES.
Mas no processo criativo, prefiro o
silêncio. Veja bem: a música suscita certas emoções enquanto estou escrevendo.
Mas tenho que me perguntar: o que estou sentindo se deve à música ou ao que
estou escrevendo? Porque o leitor não estará escutando a mesma trilha sonora
enquanto ler o livro. Provavelmente, ele não esteja escutando música alguma. Já
tive ocasiões em que senti uma emoção forte enquanto escrevia alguns capítulos.
No entanto, quando abaixei o som, a emoção foi embora. Isso é perigoso: você
precisa emocionar o leitor com a sua escrita, e somente com ela.
L: Quais autores mais a inspiram?
Cristiane: Karin
Slaughter, que sabe deixar o leitor em estado de tensão absoluta e só revela a
verdade nos momentos certos. Também, Raymond Chandler, por seu detetive que
parece uma câmera, a observar o que passa ao seu redor, sem nunca transmitir o
pensamento do protagonista, o qual continua sendo um mistério embora apareça em
cada página do livro.
L: Quais são seus projetos para o futuro?
Cristiane: Enquanto
a Novo Século trabalha na edição de O PREÇO DE UMA VIDA e prepara o lançamento
na Bienal, já tenho outro romance policial em andamento. Devido à minha ligação
com o Exército Brasileiro, a partir de O PREÇO DE UMA VIDA, os militares
começam a fazer parte da minha ficção. Eu realmente os admiro e participo de
muitos eventos e formaturas do EB (Exército Brasileiro). Essa convivência será retratada nos livros
com muita ação e um toque de suspense.
Parabéns, muito boa a entrevista.
ResponderExcluir