Resenha: Crocodilo Sonhador

Autora: Vanda Amorim

Editora: Letramento

Ano: 2016

Páginas: 256

* Livro cedido pela editora, referente a parceria de 2018.

Rede de relacionamentos que enlaça a existência dos personagens. Nas dobras dessa rede, o sentido das coisas se mostram e se esquivam. E o amor, em suas várias vertentes, pode até rimar com dor, interesse sensual, entusiasmo de uma paixão avassaladora, tédio denunciador de que o fogo se foi, reinicio do mesmo amor – se for possível.Eugênia, uma jovem mulher insegura e vulnerável às estratégias de Eduardo, um homem excêntrico, passa parte de sua vida se equivocando nas escolhas. Mesmo sem intenção, faz sofrer as pessoas que a amam de verdade, em especial o homem de sua vida, Gabriel. “Durante dois anos de casamento, Eugênia viveu em um verdadeiro inferno de cobranças, humilhações e agressões. Não conseguindo entender o ódio que o marido sentia por ela.” Apenas com o tempo percebe que tudo poderia ter sido diferente se não tivesse feito opções desastrosas. Após o nascimento dos filhos trigêmeos, situação que a expõe a maior sofrimento e tortura, Eugênia decide reunir força para desatar-se definitivamente das garras de seu algoz.Com temas áridos como a violência moral e física contra a mulher, HIV, paralisia cerebral e homossexualismo, esta obra, num enredo contemporâneo e dinâmico, ensina que apesar de todos os reveses da vida, amar ainda vale a pena.

     Crocodilo Sonhador foi uma surpresa. Sim, é assim que começo a minha resenha de hoje. Quando li a sinopse desse livro, imaginei que fosse ser um livro que mostraria uma mulher forte, que passou por situações complicadas na vida. Imaginei várias coisas, mas eu comecei o livro me decepcionando, apenas para depois me surpreender ainda mais. Vamos conferir o porquê?

     Aqui conhecemos Eugênia. Quando mais nova, ela namorava Julio, um rapaz que parecia nutrir o mesmo sentimento por ela, mas, após uma viagem de intercâmbio para a Austrália, ele a tratou com frieza e terminou tudo, sem nem mesmo uma conversa ou explicação. Ela sofreu muito, pois era uma menina muito dependente desse tipo de afeto.

     Pouco tempo depois, ela conheceu Gabriel, um rapaz muito atencioso e carinhoso, que fazia tudo por ela. Eles ficaram noivos, fizeram planos, mas, quando tudo ia bem, Julio aparece novamente, dizendo estar com HIV e que ela pode ter o mesmo. Atordoada, ela começa a se afastar do noivo e Eduardo, um colega da faculdade, se aproxima dela, ganhando seu afeto.

     Neste ponto da história, Eugênia começa a fazer escolhas que lhe fazem feliz por muito tempo. Ela rompe com Gabriel, mas então Eduardo se mostra alguém frio e termina com ela, e ela tenta voltar com Gabriel novamente. Quando tudo está bem, Eduardo volta, após a morte precoce de Julio, e os sentimentos antigos retornam. Novamente ela abre mão da vida ao lado de Gabriel, que já formado vai trabalhar e se especializar em Timor.

     Mas a vida de Eugênia ao lado de Eduardo estava fadada ao fracasso desde o início, pois ele nunca se mostrou realmente apaixonado por ela. Desde o primeiro dia do casamento, ela vivia um inferno em casa e nem quando conseguiu ter os filhos que tanto ele exigia, as coisas melhoram. Porém, as crianças viriam a ser a sua força, a sua motivação e a sua chance de recomeçar. Ela também viria a descobrir o segredo de Eduardo. Com uma filha com necessidades especiais e tendo de recomeçar a vida sozinha, Eugênia viria a descobrir que sua força era maior do que conhecia e que quando a vida decide nos dar mais chances, devemos aproveitá-la.

     No início do livro, Eugênia é uma mulher dependente de atenção e afeto, ela é extremamente submissa e um pouco egoísta também. Após a decepção que ela sofreu com Júlio, era de esperar que nunca fizesse a mesma coisa, mas faz. Ela faz exatamente a mesma coisa com Gabriel e eu passei mesmo meio livro com raiva da forma como ela “brincou” com os sentimentos da pessoa (terminando, voltando e terminando de novo).

     Porém, quando o casamento com Eduardo acontece e ela começa a sofrer nas mãos do marido, agressões físicas e verbais, eu fiquei revoltada com a forma como ela aceitou aquilo, como acatou as ordens dele e ainda aceitou ter um filho desse “monstro”. Aos poucos, a realidade foi me atingindo: quantas mulheres não passam por isso? Acreditam que fizeram a melhor escolha, que conseguirão mudar o outro, que um dia aquilo vai passar e a pessoa será melhor? Muitas! E Eugênia representou cada uma delas.

     Quando os filhos nasceram, ela ganhou força para lutar, especialmente por ter uma filha com necessidades especiais. Muitas vezes, tudo que uma pessoa nessa situação precisa é de algo que lhe ajude a descobrir a própria força e ela teve.

     Outro personagem maravilhoso foi Gabriel. No início, ele parecia um personagem bem fraco, que parecia passivo de qualquer coisa sem reagir, mas também no final do livro somos conquistados por suas atitudes e ideais. Acho que foi meu personagem favorito do livro, depois, claro, de Sofia, a filha de Eugênia.

     Uma das coisas que me incomodou bastante nesse livro, além do início, foram os diálogos. Apesar da autora ser mineira, o livro se passa em Portugal. Só que a única coisa presente na forma de falar foi o jeito sério e formal, mas o “jeito” de falar não seguiu o do local, parecendo apenas um “brasileiro sem emoção”.

     Apesar de ter alguns momentos que me deixaram um pouco desanimada, foi um livro com ótimas lições e mensagens, além de ser uma leitura rápida e bem agradável. Recomendo a todos que estejam preparados para muitas emoções e queiram ver a força que surge em uma mulher que, antes, não tinha nenhuma esperança.

Classificação:

Gênero:

Literatura Nacional

Literatura Feminina

Ficção

Drama

Romance