Delfina é uma mulher bonita, "uma negra daquelas que os brancos gostam". A história de vida desta Delfina, "dos contrates, dos conflitos, das confusões e contradições", é a história da mulher africana, a história da apocalíptica perda do sonho. Esta mulher debate-se entre "escolher o caminho do sofrimento", o amor que sente por José dos Montes, e "eliminar a sua raça para ganhar a liberdade", procurando o homem branco que lhe dará o alimento e o conforto que deseja. Mas o que é o amor para a mulher negra? Na terra onde as mulheres se casam por encomenda na adolescência? O problema arrasta-se ao longo do livro, aparentemente sem solução: "viver em dois mundos é o mesmo que viver em dois corpos, não se pode. Tu és negra, jamais serás branca". Mesmo assim a mulher negra "procura um filho mulato, para aliviar o negro da sua pele como quem alivia as roupas de luto". O sufoco das palavras outrora silenciadas, a valentia e a frontalidade gritam alto nos romances de Paulina Chiziane. Neste diálogo consigo própria, a conhecida escritora moçambicana, mistura imaginação, fantástico, misticismo, num retrato poderoso e peculiar da sociedade e da mulher africanas. [SKOOB]
Em o Alegre canto da perdiz conhecemos Delfina, uma mulher bonita que se debate em conflitos entre escolher o seu caminho por amor ou conforto. Delfina desnuda um lado de uma história pouco contada. Os contraste, contradições e conflitos da história da mulher africana. Uma mulher que acredita que precisa renegar a quem é para conseguir a felicidade e que acaba se perdendo ainda mais.
Como podemos nos deparar com uma cultura tão diferente, com o quanto as pessoas são forçadas a tomar decisões atropelando seus princípios e o quanto o ser humano pode ser egoísta e desumano.
Neste livro, Paulina Chiziane nos choca e nos emociona em um enredo pautado de muito misticismo e fantasia enquanto retrata este período histórico da sociedade e da mulher africana.
É triste ver o quão fácil o ser humano é comprado, ouro vale mais que sentimento, vale mais que uma vida. Muitos preferem virar as costas aos seus, sentem que estão no topo da cadeia, mas é tão mesquinho, tão triste que nos da uma sensação de quão pequeno o ser humano significa.
Traições, que nos faz refletir sobre a família, refletir sobre o certo e errado. Dentro de dadas circunstancias, será que somente o caminho destrutivo era aceitável? Porque cor de pele vale tanto assim?
A história de um povo, que sofreram, foram capturados e renegados. Em alguns momentos perderam a fé e a esperança em si.
É acima de tudo uma história de amor e perdão. De busca por quem é em um mundo que lhe descaracterizavam.
Com personagens imperfeitos, que cometem erros e nos faz refletir sobre a natureza humana e seus caminhos. Conhecemos através desta leitura não só a cultura negra e todo o contexto histórico deste povo. Uma história sobre a força da mulher negra, do valor da família e acima de tudo da importância dos recomeços.
Não foi uma leitura fácil, pelo contrário, foi extremamente difícil. Uma escrita diferente com influência dos contos orais, mesmo sendo complexa nos instiga e envolve com detalhes da cultura negra, emocionando e revoltando.
Vemos uma raça se mover contra ela mesma, o racismo dentre um único povo, o quanto pessoas sofreram, foram abusadas, mortas, escravizadas, destruídas e tudo por conta da coloração da pele, por conta de valores e crenças que os brancos não entendiam e ainda se intitulavam como civilizados.
Uma leitura difícil, que faz o leitor desejar abandonar a cada parágrafo e quando terminamos, estamos diferentes. Somos tocados mais uma vez.
"Só Deus sabe de onde ela veio. Só Deus sabe as lágrimas que ela chorou. Só ela pode contar as alegrias que o coração colheu. Os caminhos que percorreu. Só Deus sabe como é que ela aqui chegou."
"A vida é uma eterna migração. Do corpo do pai para o ventre da mãe. Do ventre da mãe para o sol , para a terra. Da terra Natal para o desconhecido. Tudo emigra."
e Giseli Silva
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