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Setembro Amarelo: em entrevista, a psicóloga Fabíola Sousa fala sobre o tema e a importância da campanha

Em entrevista concedida à jornalista Ana Cláudia Esquiávo  para o Editorial Eco Literário, a psicóloga Fabíola Sousa fala sobre os motivos que levam as pessoas a cometerem o suicídio e também sobre a “depressão sorridente”, uma perigosa doença que mascara sintomas de depressão  e pode levar à graves consequências.

Essa iniciativa marca o terceiro aniversário do Editorial Eco Literário e coincide com a Campanha Setembro Amarelo sobre a necessidade de apoio às pessoas que sofrem de depressão e transtornos mentais que levam ao suicídio.

Vamos à entrevista:


AC- Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina organizam a campanha Setembro Amarelo. Segundo o site setembroamarelo.com, cerca de 12 mil casos de suicídio são registrados no Brasil e mais de um milhão no mundo todos os anos.  Ainda de acordo com o site, aproximadamente 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias. A senhora acredita que um diagnóstico precoce da depressão, que está no topo das causas de suicídio, poderia ajudar a reduzir esses casos?

Faby: Existem 3 motivos que levam as pessoas a cometerem o suicídio, pelo menos é o que se discute hoje, o transtorno mental que como vocês trouxeram é a grande maioria, o objetivo de culpar alguém e deixar como o culpado/homicida do suicídio e quando a pessoa passa por um sofrimento que considera impossível de suportar. Voltando ao transtorno mental que é a maior causa dos suicídios eu diria que sim o diagnóstico precoce seria o ideal, dentro disso precisamos falar sobre gênero e cultura, 76% dos suicídios no Brasil são realizados por homens revela relatório da OMS. Desde muito cedo ensinamos em nossa cultura que homens não podem ser sensíveis, não podem chorar, não podem demonstrar emoções e serem mais fortes, logo quando um homem precisa de ajuda ele esconde, quando um homem procura ajuda profissional ele já está em um estágio avançado da depressão ou outro transtorno mental, fora o preconceito do tratamento psicológico que dificulta o acesso de todas as pessoas ao acompanhamento e diagnóstico precoce. O ideal é realizar campanhas para esclarecer o que é o tratamento, para diminuir cada vez mais esse preconceito e machismo em cima do transtorno mental, dessa forma o diagnóstico feito precocemente ajudaria a prevenir o suicídio.


AC- Muitos indivíduos que pensam em cometer suicídio afirmam querer acabar com a enorme “dor emocional” que estão sentido. Muitos não se encontram em depressão, mas passam por tribulações, sofrem decepções e não conseguem lidar com elas. O que seria indicado para essas pessoas lidarem com as suas frustrações sem pensarem em recorrer ao suicídio. 

Faby: Para pessoas que não estão em um transtorno mental (que precisam também de acompanhamento psiquiátrico) é imprescindível uma psicoterapia, para auto conhecimento, compreender seus limites e sua resiliência, assim a própria pessoa reconhece que precisa se cuidar, até onde deve ir para não se machucar psicologicamente. Também devem estar atentos a sua qualidade de vida, muitas pessoas acreditam que qualidade de vida é apenas estar com as vacinas em dia, exames médicos bons, qualidade de vida esperado é ter tempo para descansar, ter um hobbie, boa alimentação, o tempo certo de sono, lazer... Hoje em dia as pessoas estão atarefadas e sem tempo para lazer, isso ajuda adoecer a mente.


AC- Pessoas que sofrem com a “depressão sorridente” são capazes de sorrir, demonstrar felicidade, viver momentos alegres e mesmo assim  serem acometidas por pensamentos e sentimentos suicidas. Quais são as características dessa doença e como ela pode ser perigosa para as pessoas que são acometidas por ela?

Faby: Depressão sorridente ou depressão atípica é mais perigosa do que a depressão clássica, pois é difícil de ser identificada. Outra coisa perigosa nesse tipo de transtorno é que na depressão clássica a pessoa não tem energia, mal consegue ter força para tentar/realizar o suicídio, já a depressão sorridente a pessoa tem essa força e por isso comete mais fácil o suicídio. A pessoa com esse tipo de depressão não aparenta ter nenhum transtorno mental, começa tendo dificuldade em suas relações e trabalho, ela costuma ter aumento de apetite e peso, sentir cansaço sempre, consegue ficar feliz por acontecimentos de forma momentânea mas logo se sente desanimada de novo.  


AC- Muitos indivíduos não procuram ajuda médica e psicológica devido ao preconceito. Ouvem que depressão é devido à falta de religião, preguiça, que não há motivos para se desanimarem, pois possuem uma vida considerada boa e há outros em situação pior. A senhora acredita que a conscientizar a população sobre necessidade de apoio e não julgamento dessas pessoas ajudaria?

Faby: O melhor remédio para ignorância/preconceito é a informação, as pessoas sempre falam frases como essas que você citou para pessoas com transtornos mentais, porém jamais diriam para uma pessoa com câncer, por exemplo, ambas são doenças que podem levar a morte. Muitas pessoas tomam remédios contínuos para diversos tipos de doença , mas só quem tem transtornos mentais é julgado por isso, nunca vi alguém falar para quem tem diabetes parar com as medicações porém fazem isso quando é um psicotrópico. As pessoas precisam entender que doença é doença e todas precisam de tratamento, eu chamo os ditos ˜transtornos mentais˜ na maior parte das vezes de doença, muitos psicólogos não concordam com isso, pois dizem que cria um estigma em cima das pessoas, mas eu simplesmente uso para dar ênfase no quanto é sério o transtorno mental, tal como qualquer doença é. É preciso mais filmes, novelas, discussões, palestras e orientações em ambientes diversos sobre o que é a doença mental, hoje já melhorou bastante com as informações que chegam mais fáceis através da internet, estamos falando sobre isso agora antes essa discussão era rara ou quase inexistente. 


AC- Também há outro preconceito que dificulta as pessoas a procurarem um psicólogo ou psiquiatra, pois erroneamente ouvem que essas especialidades são destinadas somente às pessoas com transtornos mentais mais graves. A senhora acha que caso essa barreira seja derrubada, mais pessoas poderão procurar uma ajuda médica e se tratarem mentalmente assim como tratam as doenças físicas?

Faby: Com certeza, todo ser humano deveria fazer psicoterapia para adquirir autoconhecimento, auto estima, autocontrole e saber administrar sua vida de maneira que você não adoeça, todos nós temos problemas e o psicólogo é outra mente pensando na sua vida, tudo seria mais fácil se todos entendessem isso. Porém existem outros problemas além do preconceito, o acesso a psicoterapia ainda é difícil e caro infelizmente. 


AC- A senhora acredita que histórico como abuso sexual na infância e outros traumas podem desencadear pensamentos suicidas?

Faby: Podem sim, vai da resiliência de cada pessoa, duas pessoas podem sofrer o mesmo trauma, mas em cada uma o “estrago” será diferente, uma pessoa pode sofrer bullying quando criança e isso a impulsionar a querer estudar, arrumar um bom emprego para mostrar aos agressores como ela é sim alguém importante e que aquilo não diminuiu seu valor, outra pessoa pode se sentir inferior aos demais por ter passado por isso e nunca conseguir fazer nada e acabar desenvolvendo algum transtorno mental e chegar ao suicídio. Outra realidade é das pessoas que nascem com predisposição para o transtorno mental e o trauma desencadear isso. 


AC- Quais são os fatores de riscos que podem levar uma pessoa a cometer suicídio? Como preveni-los?

Faby: Os fatores de risco são transtornos mentais, traumas (bullying, luto, abuso sexual...), problemas financeiros, problemas amorosos, vícios em drogas lícitas ou ilícitas, solidão... Muitas pessoas julgam os motivos, mas é como citei na resposta anterior o que para uma pessoa é insuportável a outra acha simples de resolver. É preciso estar atento sobre o comportamento das pessoas próximas, frases como “eu quero sumir”, “não aguento mais viver”, “queria morrer” é um sinal de alerta. Porém não basta apenas perceber os sinais é preciso encaminhar ou levar a pessoa até um profissional. Existe o CVV que é o canal onde atendem via chat ou telefone pessoas que precisam urgentemente conversar, que estão pensando em suicídio ou até mesmo já planejou, o site é https://www.cvv.org.br/ e o número 188.












Juliete Vasconcelos,
autora da trilogia O Ceifador de Anjos






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